A estrutura feita de pedra fica no meio do canavial, num trecho onde não houve plantação de cana
Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
Engana-se quem pensa que em terras de usina só brota cana. Um pedaço da nossa história está sendo resgatado por arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) debaixo das plantações ou em áreas vazias cercadas pelo canavial no município de Igarassu, no Grande Recife. Os pesquisadores já encontraram ruínas de uma construção feita de pedra, cacos de louça, garrafas de vidro e fragmentos de cerâmica que serviram a antigos ocupantes da região.
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“O canavial não apagou todos os vestígios do passado, podemos descobrir muitas coisas, mas teremos de expandir a pesquisa”, afirma a professora da UFPE e coordenadora do projeto, Cláudia Oliveira. Desde março de 2015, ela faz o acompanhamento da obra de implantação de linhas de transmissão de energia em Igarassu e Araçoiaba. “Com esse trabalho, localizamos 16 sítios arqueológicos”, diz ela.
Por enquanto, os pesquisadores estão avaliando as ruínas de pedra, que ficam no meio do canavial, mas numa área onde não houve plantio. “A chance de se encontrar algo é maior porque o trator não passou por cima da estrutura”, observa o arqueólogo Grégoire van Havre. Os pesquisadores identificaram o embasamento da edificação, de alvenaria de pedra seca.
Essa tecnologia, de acordo com ele, é empregada não ausência de argamassa. “É uma técnica usada desde milhares de anos atrás até os anos mais recentes, por isso não temos condições de datar a construção, nesse momento”, declara o arqueólogo. “Precisaríamos achar outros vestígios, como moedas, para orientar a datação”, exemplifica.
Pelas dimensões reduzidas, é provável que não fosse uma moradia, observa Cláudia. “Faltam elementos para indicar a função do imóvel. Nossa meta é ampliar a pesquisa para dentro do canavial e tentar encontrar mais edificações”, declara. Os cacos de telha, cerâmica, louça e vidro (há um frasco inteiro de óleo de peroba, dos mais antigos) recuperados serão analisados em laboratório, na UFPE.
CERÂMICA
Ela descarta a possibilidade de o fragmento de cerâmica recuperado no sítio, batizado Três Ladeiras, ser um artefato indígena. “Era um pote com 40 a 50 centímetros de boca, do período histórico, e foi queimado em forno fechado”, diz ela, dando algumas pancadas com a ponta dos dedos na vasilha. “A alta temperatura de queima produz esse som mais aberto”, ensina.
Se fosse uma peça indígena, queimada em baixa temperatura, o som seria mais abafado, detalha ela, ao explicar a diferença entre cerâmica histórica e pré-histórica. “No século 17, essa área era ocupada por portugueses, holandeses e indígenas”, informa Grégoire. Os arqueólogos permanecem no local até o fim de outubro.
Nesse mesmo projeto, a equipe encontrou sítios pré-históricos em Araçoiaba (município vizinho), nas terras de uma usina de cana-de-açúcar. A propriedade em Araçoiaba não pertence à Usina São José, como os arqueólogos haviam divulgado em matéria publicada dia 14 de outubro último, no Caderno Cidades
Fonte: Jornal do Comercio
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